Cachoeira do Campo

A marca da coroa portuguesa em Cachoeira do Campo

Início da colonização

Na transição entre os séculos 17 e 18, chegaram à região os primeiros grupos ditos civilizados, incluindo-se a bandeira chefiada por Antônio Dias, provenientes de São Paulo de Piratininga. A grande maioria estava em busca do ouro e pedras preciosas,ão razão pela qual ficou assentada à vista do grande pico, referência geográfica escolhida pelo que recolhera as primeiras amostras do ouro, em pedrinhas recobertas de matéria ferrosa e as mostrou, revelando assim que havia ouro, sim, no interior do Brasil.

Primeiros agricultores na região

Entretanto e felizmente, nem todos procuravam o que não haviam perdido naquele chão desconhecido, mas tentavam, quiçá, conhecer e estabelecer uma relação de troca com o mesmo e, obtendo êxito, fixar morada definitiva.

Deduz-se que assim foi como os primeiros colonos se estabeleceram nestas paragens, lançando as primeiras sementes, colhendo os primeiros frutos e, vendo e sentido que a natureza correspondia aos seus desejos, edificaram moradas e assim se estabeleceram.

Longe do bulício do garimpo, ambições, ganâncias, desconfianças e traições que o mesmo trás, os que na atualidade poderiam se chamar “aventureiros do verde” formaram, em alguns anos, a comunidade em torno da ermida construída em honra de Nossa Senhora de Nazaré.

Devido a essa devoção religiosa, Cachoeira do Manoel de Melo, primeiro nome da localidade, segundo a tradição oral, em razão de Manoel de Melo ter sido o primeiro habitante, passou a ser Nossa Senhora de Nazaré dos Campos de Minas. Só mais que tarde o nome foi trocado para Cachoeira do Campo. Parece, entretanto, que antes de Cachoeira do Campo, o arraial se chamou Cachoeira da Borda do Campo, pois assim datou Joaquim Silvério dos Reis, em sua delação relativa à conjuração,, liderada pelo alferes, o “Tiradentes”: Borda do Campo, 11 de abril de 1789 (O Tiradentes- coleção Os Grandes Julgamentos da História/Otto Pierre Editores Ltda.)

Trabalho duro no manejo da terra, na edificação das primeiras casas, improvisação de ferramentas, dificuldades na preservação da saúde, em razão da falta de recursos médicos e farmacêuticos, tudo compensado com harmonia e tranquilidade então reinantes, entre duas “mães”, a “serra” da Mãe Engrácia, aos pés da qual se ergueu a localidade, e a “serra” da Mãe d’Água, a exercer vigilância por trás da fortaleza, erguida a mando real.

A tranquilidade quebrada

Mas por volta de 1708, quando a comunidade se viu invadida pelo grupo chefiado por Manuel Nunes Viana, a paz foi quebrada pela primeira vez. Eram os emboabas, aventureiros de várias partes, muitos da Bahia, de onde era oriundo seu chefe.

O grupo estava em perseguição aos mineradores paulistas, que aqui haviam se reunido com paulistas de outros campos mineradores, para melhor resistir aos invasores. Os emboabas pretendiam assumir o controle da mineração do ouro, às margens do córrego Tripuí, na região do Itacolomi.

Chegaram a expulsar os paulistas de seus acampamentos e garimpo. E no povoado de Nossa Senhora de Nazaré dos Campos de Minas, expulsaram o primeiro pároco local, padre Amador Rodrigues e arrombaram a primitiva igrejinha, coberta de sapé, para a “sagração” do Manuel Nunes Viana como governador das Minas.

O ato religioso foi conduzido pelo frei Francisco de Menezes, mentor e lugar tenente do Nunes Viana. Tudo isso aconteceu depois de sangrento combate entre emboabas e paulistas, na região do Jardim, área hoje compreendida, entre o Oratório e a Rua da Pedra Sabão (trecho da primitiva estrada OP/BH).

Os primeiros cachoeirenses não tinham nenhuma relação com o garimpo no local, onde os primitivos arraiais dariam lugar à futura Vila Rica; nada tinham com a exploração do ouro, mas, pagaram caro com o sangue de irmãos, insulto e sacrilégio com a expulsão do pároco, arrombamento e uso indevido da igreja.

Organizados e preparados para combates, os emboabas venceram os paulistas, concentrados tão somente na exploração do ouro. Entretanto, os invasores ganharam, mas não levaram.

Teriam levado, se não tivesse ocorrido a intervenção do governo português que, até aquele momento, parecia ter desdenhado a atividade mineradora, talvez por falta de informação fidedigna sobre a situação.

Colonizador despertado para a realidade

O garimpo corria livre e solto, evoluindo, sem qualquer controle do governo local (sediado em São Paulo), distante e sem qualquer meio de comunicação. O conflito, ocorrido entre 1707 e 1709, serviu para alertar as autoridades portuguesas, que assumiram o controle e dois mais tarde, em 8 de julho de 1711, reuniram os arraiais mineradores às margens do Tripuí que, unificados foram elevados ao status de vila, com o nome de Vila Rica de Albuquerque.

A partir de então, estabeleceu-se o controle da exploração aurífera por parte das autoridades portuguesas e, constatada a evolução da atividade, que provocava grande afluxo de pessoas, para ali se estabelecer, foi criada a capitania das Minas Gerais, tendo Vila Rica como capital.

Graças ao seu clima mais ameno, não brumoso e húmido como o de Vila Rica, horizonte mais amplo e livre de altas montanhas, o povoado em volta da igreja de Nossa Senhora de Nazaré, matriz da primeira paróquia (missão e curato) criada pela Arquidiocese de Mariana mereceu atenção do governo colonizador.

O governador havia que residir na capital da nova capitania, mas, em Vila Rica havia os inconvenientes, já mencionados, do clima e do ambiente social, um tanto tumultuado, como sói acontecer em áreas de exploração do ouro.