Tesouro oculto

Histórias sobre piratas quase sempre encerram algum tesouro, escondido por alguém em ilha perdida nos confins do mundo, ou em caverna habitada por seres estranhos ou monstros, ainda que imaginários. As dificuldades para se chegar ao tesouro são muitas, de diversos tipos e graduações, a começar, invariavelmente, pela interpretação de um mapa incompleto, descoberto por acaso.

Geralmente, tal mapa está dividido em três partes, cada uma escondida de forma e em lugares diferentes. Descoberta a primeira, aguçam-se curiosidade e cobiça na busca das demais e, prosseguindo, inicia-se a busca do tesouro sob clima de muita adrenalina.

Tais relatos são construídos com o nobre propósito de levar mensagem de estímulo à batalha pela vida, cujo sucesso nem sempre está na conquista material, mas no equilíbrio, na generosidade, na lealdade, no trabalho honesto e convivência harmoniosa com os semelhantes.

A vida, às vezes de flores, outras vezes de dores, em ambas situações é uma sucessão de lutas, nas quais se mata um dragão por dia, quando há determinação. A fada madrinha até pode aparecer, mas nunca de graça; exige-se merecimento prévio.

Mas, não somente a ficção cinematográfica e a literatura falam em tesouros perdidos, pois na vida real relatam-se muitos casos, alguns sob o viés de lendas e outros a enriquecer raros felizardos.

Tesouro dos conjurados

Em Ouro Preto-MG, Brasil, cidade surgida no período colonial, por força da corrida do ouro que, então, era generosamente encontrado nas cercanias do pico Itacolomi e no fundo do córrego Tripuí, muitas lendas se contam sobre tesouros escondidos.

A mais antiga delas é sobre o chamado “tesouro dos inconfidentes”, que eu prefiro chamar “tesouro dos conjurados, pois inconfidência e inconfidente é, por lógica, a visão do colonizador. Bom, isso é outra história, que não cabe na lenda, ainda que esta esteja dentro daquela.

Uma das localizações onde poderia estar guardado o “tesouro dos conjurados” é uma região mais próxima do Itacolomi, portanto, um tanto longe do centro da cidade. Segundo a história oral, os envolvidos na Conjuração Mineira teriam juntado ouro e pedras preciosas que, depositados em local secreto, seriam empregadas na manutenção do movimento e consolidação da independência, propósito maior da conjuração.

Convicto de que, na região do Itacolomi, estaria escondido o presumido tesouro, um dentista abandonou a profissão, passando a viver ali, sozinho. Longe da convivência familiar, isolado num casebre sem nenhum conforto, passou boa parte de sua vida a procurar o lendário tesouro. Seu corpo foi encontrado já totalmente consumido pela decomposição.

Poucos anos mais tarde um boato explodiu na cidade. Um tratorista, que abria uma estradinha na mesma região, onde morrera o dentista, teria achado uma caixa a conter boa quantidade de barras de ouro. Eram os anos 60, quando a comunicação ainda era bastante deficiente.

Contudo, bastou falar em ouro, para a cidade se encher de repórteres de rádios, jornais, revistas e da televisão com aquela parafernália ainda bem pesada, naquela época. Segundo o relato, o tal tratorista não teria nem desligado a máquina, caindo fora do local logo em seguida.

O zum-zum, a envolver o presumido achado, persistiu naquele dia, mas no seguinte, tudo foi desmentido, sem muita explicação. Segundo relatos da época, o tratorista desapareceu e a construção da estrada não teve prosseguimento. O que aconteceu? A interpretação é livre!

“Espírito” revela segredo

Bem antes do caso do tratorista na região do Itacolomi, lenda, esperteza e cobiça se misturaram, resultando tudo isso em fato policial. Naturalmente que ciente das histórias sobre tesouros escondidos na antiga Vila Rica, um homem surgiu na cidade, indo residir em bairro localizado onde outrora se produzira muito ouro.

Fez amizades e se mostrou interessado nos antigos relatos sobre ouro. Apresentando-se como espírita, atraiu algumas pessoas para sessões convocadas em sua casa. Lá um dia, numa das sessões, ele teria “recebido uma entidade”, que informou sobre grande quantidade de ouro enterrado no quintal de uma das casas daquele mesmo bairro.

Muita gente cavoucou terra, em busca do tal tesouro, embora não se conhecessem detalhes sobre a localização exata. Claro que nada foi encontrado. Passados alguns dias, morador de uma das casas mais antigas recebeu a visita do “espírita’, que lhe disse ter informações do mundo espiritual de que o tesouro estaria naquela casa.

Havia necessidade de uma sessão, restrita a eles dois, para que fossem recebidas orientações finais sobre a localização do ouro. No dia combinado, noite de uma sexta-feira, os dois mais esposa e dois filhos do anfitrião se reuniram, quando a “entidade” convocada pelo “médium” incorporou e começaram então as instruções.

A entidade começou por dizer que ao revelador do segredo, o “médium”, teria direito a uma compensação. Entretanto, o tesouro não poderia ser dividido, para que dele fosse retirado o que lhe caberia. Depois de algum tempo em que a “entidade” parecia confusa, ou fosse atrapalhada por outra da mesma natureza, que parecia estar a impedir a revelação final.

Em seguida, a “entidade” informou que a compensação deveria ser feita em dinheiro (algo em torno de dois mil dólares atuais), a ser entregue momentos antes do resgate do tesouro. Em seguida, a mesma “entidade”, dirigindo-se ao morador da casa, orientou para que ele erguesse os braços, acima da própria cabeça com as palmas das mãos viradas para cima, se estivesse de acordo com o proposto. Esse gesto teria o valor de selo, cuja violação redundaria em desgraça para a mesma pessoa.

Concluindo, a “entidade” exigiu de todos que nada fosse revelado a alguém de fora daquela casa, antes que eles estivessem de posse do ouro. Acrescentou que o último contato seria feito na sexta-feira seguinte, à mesma hora, quando seria indicado o local exato, desde que o anfitrião cumprisse o prometido, o que deveria ser feito na mesma ocasião.

Na última sessão, a “entidade” se manifestou, primeiramente, como impedida tal qual a vez anterior, o que retardou a conexão para depois de diversas tentativas. Finalmente, a “entidade” incorporou, informou estar disposta a informar o local exato e solicitou do anfitrião o cumprimento do compromisso.

O dinheiro foi colocado na mesa, após o que a “entidade” informou que o valor ali ficaria até que fosse cumprida a revelação. Se o legado não fosse encontrado, a mesma quantia voltaria às mãos do anfitrião. Em seguida, o “médium” ainda “em transe” solicitou que fosse levado ao quintal, onde seria apontado o esconderijo.

No quintal, o “médium”, acompanhado pela família, circulou por algum tempo enquanto celebrava um ritual. Em dado momento, ele parou junto à ponta de um muro de pedra antigo, no limite com estreito e pouco usado beco, e apontou para a baixo, ordenando que arredassem a pedra da base. Providenciada uma alavanca, a pedra foi arredada e, no vão aberto, estava uma caixa, que foi erguida com alguma dificuldade devido ao peso.

Aberta diante de todos, o que se viu foi uma terra preta, mas ao removê-la revelou-se uma grande quantidade de algo como pepitas que, lavadas, exibiam um amarelo brilhante. A alegria tomou conta da família. O “médium”, já livre da “entidade”, apanhou o que lhe cabia e se retirou. No dia seguinte, a primeira providência do “sortudo” foi colocar uma daquelas pedras menores no bolso e ir trocá-la por dinheiro, junto a um ourives. Mas, para isso iria à cidade vizinha, evitando não despertar a cobiça onde residia.

O ourives testou o material, quimicamente, olhou para o homem à sua frente e disse: – mas isso não tem o valor que o senhor imagina! Isso não é ouro, mas, sim, pirita de ferro, também chamado ouro dos tolos!

Panela debaixo da cama

Construções antigas podem revelar surpresas interessantes e, às vezes, valiosas. Estão mais fadados a tê-las profissionais da construção civil, especializados em demolições, restauro e outras obras na preservação de antigas propriedades. 

Profissional desses foi contratado para restaurar pequena, porém antiga casa em ruínas, em Ouro Preto. Certo dia, na hora do almoço quando seu auxiliar havia saído para almoçar, ele bateu casualmente num ponto, onde antes havia uma parede. Foi um som estranho, que o deixou curioso. Resolveu averiguar, naquele mesmo instante

Com alguma dificuldade escavou e encontrou uma espécie de panela cheia do que pareciam pepitas de ouro, muitas pedras reluzentes e moedas antigas de prata. Ele tratou de envolver o encontrado num saco vazio de cimento, acomodou num carrinho de mão e rumou para o almoço. Em casa ele mostrou o encontrado à mãe, já idosa, dizendo-lhe que seus dias de pobreza haviam chegado ao fim.

Recomendando à velhinha que não mostrasse e nem contasse a ninguém, o pedreiro acomodou a panela, um tanto pesada, debaixo da cama. À tarde, após o trabalho, não voltando direto para casa, foi beber umas e outras no botequim mais próximo e acabou por se meter numa confusão, que resultou em quebradeira, sangue e o diabo a quatro; só não houve morte! O pedreiro deu um jeito de escapar em direção oposta à sua residência.

Mas, enquanto ele fugia, a polícia se dirigia à sua morada. A mãe, coitada, cansada das estripulias do filho e do sem número de visitas policiais à sua casa, foi logo dizendo que o objeto procurado estava debaixo da cama; e lhes deu autorização para entrar e carregar a panela. Acha que os policiais procuraram o pedreiro depois disso?  

A botija

Nas histórias conhecidas de tesouros estão envolvidas, quase sempre, pessoas simples e pobres, fator um tanto óbvio, porque as bem situadas ou com melhor instrução evitam que seu círculo social tome conhecimento daquilo que, de mais perto, lhe interessa pessoal e exclusivamente.

Essa constatação se reforça a cada grande prêmio da Megasena, no Brasil. Somente os ingênuos e mais pobres fazem alarde da premiação.

Em minha infância, ouvi contar sobre um achado feito por pessoa das mais pobres da localidade. Segundo o relato, o pobre homem chegou à única farmácia local e, apresentando uma espécie de botija, pediu ao farmacêutico que identificasse restinho de um pó no fundo da botija.

O farmacêutico pegou a botija e a levou para seu reservado. Pouco depois, voltou com a botija na mão e perguntou ao solicitante onde havia encontrado o objeto.

 – Enterrada no barro à margem do rio; a botija estava cheia disso e pesada – respondeu o homem.

 – E onde está o pó?

 – Burro!!! Isso é ouro.

 – Derramei tudo no rio, pois tive medo de ser veneno.

Ainda que, no local, onde fora derramado o conteúdo da botija, as águas fossem quase paradas, não haveria possibilidade de recuperação, mínima que fosse, pois havia chovido muito e o riacho chegara a transbordar.

Cobiça, raiz de tragédias

Quatro relatos de tesouro oculto, incluindo-se uma fraude, que acenderam esperanças, tomaram tempo em trabalho, alimentaram sonhos e nenhum resultou na satisfação plena das pessoas envolvidas. Aqui contam-se quatro, mas a lista é extensa, com a maioria dos casos a terminar em frustração.

Entretanto, por muito que sejam verdadeiras as desilusões, nunca falta quem se empolgue ao se anunciar riqueza oculta à espera de ser descoberta e resgatada. O ser humano traz, dentro de si, uma chama de cobiça que, se na grande maioria apenas bruxuleia, em alguns indivíduos ela se torna fogueira abrasante, sempre crescente, à medida que cresce a busca do que se procura.

Essa sede por valores materiais, presumidamente ocultos, pode levar a aventuras estranhas e perigosas, mas a cobiça pelo oculto e pelo poder que o mesmo encerra faz cegar os olhos do bom senso, podendo isso chegar aos limites do crime. Não são poucos os casos em que tudo termina em tragédia, no choque de interesses dos envolvidos.

“O maior tesouro da Terra está na personalidade humana”

Por muito grande, cobiçado e procurado que seja, nenhum tesouro material supera a personalidade humana como tesouro imaterial, conforme expresso pelo quinto dos seis itens da Carta de Princípios da Junior Chamber International – JCI /Câmara Júnior Internacional.

 Ainda que indivíduos possam pôr em dúvida essa assertiva, mediante ações contrárias aos verdadeiros valores, consagrados pela espécie, o tesouro humano continua inalterado. O ser humano, dotado dos melhores propósitos, tem este mundo como palco para suas ações dentro do princípio do livre arbítrio, e, as realiza da melhor forma, segundo sua compreensão, em benefício de si, do próximo e da coletividade.

Nem sempre acerta, mas isso não invalida sua condição original, valendo os erros como provas de esforços e estímulo na busca do acerto. À sua maneira e compreensão, a espécie humana cumpre seu papel de parceira da Criação, que ainda não acabou…

Essa qualidade do todo está presente em cada indivíduo da mesma espécie, assim como a do corpo material é detectada em cada uma das células que o compõem. Cada indivíduo tem, à sua volta, um círculo de pessoas, cujo número varia conforme a capacidade de atração exercida por si. O círculo se denomina “amizade” e cada componente, “amigo”.

O que é o amigo

Por teoria, amigo ou amiga é pessoa ligada a outra por laços de simpatia, lealdade, disponibilidade para ajudar o outro ou outra em tudo que esteja ao seu alcance. A pessoa, verdadeiramente amiga, não é só sorrisos e tapinhas nas costas, convites para festas e presentes, pois quando necessário ela franze o cenho e se manifesta com franqueza e contundência a respeito de algo que precisa ser corrigido.

O amigo ou amiga se alegra com o sucesso do outro ou da outra e se coloca no lugar deste ou desta, quando há um problema a requerer solução. O verdadeiro amigo é um suporte para todas as ocasiões. Isso é na teoria, pois, na prática e maioria das vezes, além daquele sincero, o amigo pode ser circunstancial ou interesseiro; circunstancial quando envolvido por circunstâncias, tais como local de trabalho, escola, atividade profissional, vizinhança. No caso último, o vizinho é a pessoa com a qual há que manter o melhor dos relacionamentos, sem, entretanto, “viver enfiado” em sua casa.

A importância do vizinho, na vida de uma pessoa, está no fato de que ele pode ser o parente “mais próximo”, em casos de necessidade, casos de emergência. Os interesseiros, os menos desejados entre amigáveis, são os oportunistas, que se aproximam e mantém posição enquanto lhes convém, segundo fatores como por exemplo, posição socioeconômica, status social, etc. No caso de revés, são os primeiros a se afastar.

Todos querem ter amigos

O indivíduo, psicologicamente normal e menos introvertido, anseia por ter amigos, no maior número possível, pois é da natureza humana manter contato e relacionamento com os da espécie.

É por isso que ele viaja, vai a festas, ingressa em associações, participa de atividades coletivas, faz de tudo recomendado para que esteja em evidência, descontados aí alguns pontos de vaidade. A pessoa passa a ser conhecida e elogiada por seu largo círculo de amizades, evidenciando-se isso por ocasião de sua morte, no velório e funeral.

A família então se consola: mas, como tinha amigos! Ele/ela era, realmente muito querido(a). Mas será que são todos amigos? É aí que a “porca torce o rabo!” Há controvérsias! Há algo que comprove? Não! Ser amigo circunstancial não invalida uma amizade, ainda que não genuína. Ser simplesmente interesseiro, também não, embora se saiba ser esse tipo de amizade a mais instável.

Mas a pergunta continua: são todos amigos? Ainda há controvérsias! Digo agora o que pode chocar a muitos: ninguém sabe quem é, verdadeiramente, seu amigo! Dirão: – eu sei que fulano é meu amigo. – Ah! é? então prove. Nada, absolutamente, nada que uma pessoa faça por outra prova sua amizade por ela. – Mas, eu tenho um amigo assim, assim e assado, que eu conheço muito bem. – Conhece coisa nenhuma, a menos que dotado de superpoderes, que lhe permitam ler a mente, a alma do semelhante. É pura presunção nominar amigos! Uma pessoa pode, com certeza, dizer-se amiga de outra, mas, nunca que outra a parte seja sua amiga, ainda que se comporte como uma santa! O amigo realmente existe e podem ser muitos na vida de uma pessoa.

Entretanto, não se sabe quem nem quantos. Entre esses, autênticos e sinceros, pode ser até que haja quem chegue a se ofender com o aqui dito, mas é porque não sabem haver verdadeiros “artistas”, que fingem ser tudo o que é o verdadeiro amigo, mas não o são; e por longo tempo! O amigo é, verdadeiramente, um tesouro: mas, um tesouro oculto! Quem acredita, piamente, que todos os ditos amigos são, de fato, o que dizem e aparentam ser, precisa conhecer melhor a natureza humana.

Há indivíduos autênticos, sinceros, honestos, solidários, enfim, dotados de todos os valores, reconhecidamente, como ideais da espécie, mas o contrário é também verdadeiro. E o pior deles talvez seja aquele capaz de muito enganar, por muito tempo a muita gente. Uma de suas “habilidades” é fingir-se amigo, de tal forma que a outra parte, nem de longe, desconfia, ao longo de uma vida. Quando desmascarado, ainda pode ter a “cara-de-pau” de fingir não ser com ele; pode tentar continuar com a farsa.

A parte enganada, por fim ciente da verdadeira situação, só mais tarde vai entender certas passagens daquela velha “amizade”, algumas “derrapagens” que, em seu momento, foram considerados simples atropelos involuntários. Na realidade, a pessoa estava a prejudicá-lo, mas de tal forma, que não levantava suspeitas. Tal personalidade vive, em seu meio, a enganar, mas não se entende como consegue.

Comumente, engana-se uma, duas vezes, a uma ou outra pessoa, por por pouco tempo, mas enganar sempre, a todos, parece coisa satânica. É como se dotada de um inerente poder de hipnose, diante do qual os circunstantes se quedam. Tais pessoas talvez assim procedam, inconscientes de sua característica peculiar, à qual poder-se-ia rotular como anomalia psicossocial, pois isso é o que parece. São como loucos, inconscientes de sua loucura!

Algumas pessoas podem não entender o dito adiante, mas, desde já, se lhes dá o desconto, uma vez que não estão obrigadas a abdicar de suas posições a respeito do assunto, só porque alguém pensa diferente. Quando desmascarado, depois de uma vida de “amizade”, o traidor ou traidora pode causar impacto maior que uma traição amorosa.

Explica-se: traição da parte do(a) parceiro(a) de cama é, na maioria das vezes, um acidente de percurso, caso fortuito, não planejado, porém incontrolável, a depender da personalidade e caráter do(a) envolvido(a); apaixona-se ou se sente atraído(a) por outra pessoa e pronto; está o diabo na casa do Cristo!

No caso do amigo falso, não! Não é uma traição nova e repentina, porém antiga e continuada, bem arquitetada e alimentada com fatos próprios de amizade, da qual não se duvidava. Traição amorosa é “crime” no calor de uma sedução, provocado por novo amor ou simples atração física. O ciúme, ainda que não extremado e violento, impede que se analise com frieza a traição amorosa e se lhe dê o peso correspondente; mas induz a uma superavaliação na busca da compensação ao ego ferido.

Traição do(a) dito(a) amigo(a) é crime premeditado e executado a longo prazo, o(a) autor(a) perfeitamente consciente de seus atos e a vítima completamente indefesa e entregue aos caprichos do(a) “amigo(a)”.

Amigo falso, o maior inimigo

Como visto até aqui, o amigo nem sempre é aquela pessoa sorridente, extrovertida, de mãos estendidas, presente em todas as festas, assim como inimigo nem sempre é a pessoa de cara feia, de poucas palavras, introvertida, que às vezes nem cumprimenta.

Canjicas sempre à mostra podem ser dissimulação da deslealdade, característica marcante daquele que se mostra amigo, mas nunca o é. Sua aparência e comportamento são apenas meios de atingir seus fins, quando apresentada oportunidade, que pode ser na vida de qualquer pessoa do seu círculo social.

Esse tipo de “amigo(a)” existe e parece mais comum do que se supõe, embora onde viva seja conhecido(a) como pessoa jovial, comunicativa, prestativa, detentora de todos atributos do(a) verdadeiro(a) amigo(a). Reside aí, nesse potencial de aceitação em seu círculo, a grave ameaça de que ele ou ela se investe, pois uma vez, por ele ou ela, arranhada a imagem de alguém, este estará, fatalmente, condenado em seu meio. Todos se voltarão contra ele ou ela, a vítima do(a) amigo(a) falso(a). Na verdade, o amigo falso é o maior inimigo! Antes ter dez ou mais inimigos declarados do que um amigo falso!

A sombra comprova a luz

Sem saber com quem, verdadeiramente, convive e lida, a pessoa segue em frente, pensa que trilha seu próprio caminho mas, ao contrário, percorre o que quer seu “amigo”. Quando descobre o engodo já é tarde! Felizmente, uma verdade incontestável diz que, se há sombra é porque há luz.

Logo, a se contrapor à falsidade existe a lealdade, ao amigo falso se contrapõe o amigo verdadeiro. Não que este seja identificável, pois não o é, em nenhuma ocasião. O amigo verdadeiro é inidentificável devido à possibilidade de ser falso, conforme já dito, mas o falso se revela quando cai, dele, a máscara, mas isso pode não acontecer.

Dessa forma, uma pessoa pode ter um(a) ou vários(as) inimigos(as) ao seu lado durante toda a vida e morrer sem saber. Por outro lado, é certo que amigos verdadeiros terá também.

Amigos circunstanciais, embora possam não ser verdadeiros, na maioria das vezes, não chegam a causar problemas à pessoa. Como bem define sua característica, são amigos porque as circunstâncias os aproximam, no trabalho, na escola, na igreja e qualquer outra atividade. Uma vez cessadas essas circunstâncias, o relacionamento amigável desaparece ou, no mínimo, se esfria. Lá, um dia, quando novamente se encontrarem, entre uns e outros poderá soar apenas um “olá”.

Amigos interesseiros são mais problemáticos porque, a depender de seu caráter e personalidade, chegam a afetar a vida pessoal da outra parte. Alguns, mais sutis, não chegam a propriamente incomodar, mas não perdem oportunidade de explorar.

Outros, entretanto, como verdadeiros sanguessugas são mais presentes e persistentes em suas manhas e artimanhas, para explorar, ao máximo, a boa vontade da outra pessoa. Cabe explicar que a boa vontade da outra parte é fator importante, pois quando não há, o amigo interesseiro se afasta e vai em busca de outra vítima.

Quando encontra guarida, fica à vontade para xeretar, bajular, tudo sob a capa de pequenos serviços prestados, enquanto há oportunidade de obter vantagens. Uma vez exauridas as vantagens, o tal “amigo” se escorrega de fininho.

Até aqui, falou-se de amigos que não são, verdadeiramente, amigos, assim como também não podem ser classificados inimigos, à exceção do falso. Até parece que verdadeiros não há, mas isso é tão falso como aquele “amigo”, o da onça!

 Sim, há amigos verdadeiros, e, perdidos estaríamos todos se não os houvesse. A conhecida expressão “amigos são poucos” é verdadeira até certo ponto, ou seja, até os limites do nosso círculo social, mas há a considerar o fato de que amigo não é tão somente aquele, que nos rodeia, que nos prestigia, nos promove, etc.

O universo de amigos, felizmente, é muito maior que isso. Estamos todos condicionados a ver como amigos somente aquelas pessoas próximas, como ditas acima. Amigo(a) verdadeiro(a) é todo(a) aquele(a) que não nos quer mal nem em pensamento, ainda que não sejamos amigos(as) dele(a) e nem nos conheçamos.

São todas aquelas pessoas, leais em quaisquer circunstâncias, honestas, de pensamento positivo/construtivo. Imagine-se num oceano de sete bilhões de semelhantes e pense no número daquelas pessoas que, apesar de tudo que possam ou estejam a sofrer de forma injusta, não conservam sentimentos de raiva, ódio, desejos de vingança contra quem quer que seja. Essas pessoas de mentalidade positiva existem e são em número muito maior do que se imagina.

Graças a elas mantém-se o equilíbrio, quebrado de quando em quando, aqui e ali, quando e onde prevalecem pensamentos e ações da massa humana contrária que, felizmente, é minoria, por muito que se creia no oposto. O problema é o negativo ser mais visível, mais barulhento e fazer mais propaganda!

A maioria pouco se mostra e é silenciosa! Trocado o conceito tradicional de amigo, “aquele que aparentemente nos quer bem”, por “aquele que não nos quer mal em nenhuma circunstância”, vê-se que o círculo se amplia.

Esse amigo anônimo existe aos milhões, mas, dele não se tem conhecimento até que, eventualmente, um contato se faça, podendo então manifestar-se a amizade até então latente.

Portanto, a impressão de que uma pessoa tem poucos amigos é falsa, assim como também pode ser falsa uma grande quantidade de pretensos amigos, em seu círculo social. Contudo, todos temos muitos amigos(as); só não sabemos quem são e onde estão! A essas pessoas de mentalidade positiva/construtiva eu daria a classificação “amigo universal”, aquele que não quer mal a ninguém.

Nessas considerações foram lembrados o amigo circunstancial e o amigo interesseiro, frisando sempre que o amigo verdadeiro não é detectável pela simples razão de que pode ser falso, o que nos põe diante do pior inimigo, muito pior do que o inimigo declarado.

Pode-se tê-lo(a) ao lado, durante toda uma vida e morrer sem saber de sua falsidade! Ainda assim, passíveis de terem entre si um ou mais falsos, os amigos verdadeiros, por serem do tipo universal, constituem um tesouro, um tesouro oculto!

Por que ter amigos?

É  da natureza humana cada indivíduo viver em sociedade, ter em volta de si pessoas com as quais possa interagir, trocar experiências, buscar o melhor, desenvolver-se. O primeiro grupo de pessoas é o da família, mas ele o transcende, indo em busca não só de semelhantes na espécie, mas que se afinem também com suas ideias, ideais, aspirações etc.

Essa coincidência entre duas ou mais pessoas as torna, supostamente, amigas. Ao longo da vida, de acordo com sua personalidade, extrovertida ou introvertida, o indivíduo procura expandir, mais ou menos, o seu círculo de amigos. Por que lhe interessa ter mais e amigos?

Primeiramente, por meio da corrente de amigos, ele pode obter sucesso naquilo que todo indivíduo busca, o próprio desenvolvimento; busca-se como aprender, onde aprender, com quem aprender, busca-se trabalho, busca-se conhecimento. Enfim, na interação com seu semelhante, especialmente se este integra seu suposto círculo de pressupostos amigos, o indivíduo amplia sua conectividade com o mundo.

Em seguida, vem a vaidade, o orgulho ao se gabar de ter tantos amigos e poder nomeá-los na alta roda, nos pontos chaves do poder político-social-econômico. Pura ilusão! Pode-se até não encontrar amigos de verdade entre os muitos contados! Muito comum ouvir-se a expressão “não, ele(a) não tinha inimigos(as); sempre foi pessoa amiga de todos”, por ocasião de investigações policiais. Pura ingenuidade, pois um amigo falso pode ser o culpado! Dizer ser amiga, esta ou aquela pessoa, é pura presunção!

O TER e o SER

Aqui entra, mais uma vez, a questão da diferença entre o TER e o SER. Neste mundo material, muitas vezes prevalece a ideia de que o indivíduo vale pelo que possui, em valores e propriedades, razão pela qual muitos deixam a ética de lado e, ainda que legalmente, optam pelo acúmulo de bens, sem muito se importar com a sorte do semelhante que, de alguma forma, pode ser prejudicado.

Não há nada de errado em ter ou possuir tudo que a pessoa queira, desde que essa aquisição seja feita com base na ética, de forma honesta e a posse se mantenha sem que agrida os direitos de outrem. Nada há de errado em uma pessoa ser rica. O errado pode estar na maneira como a pessoa usa a riqueza ou se comporta com relação a ela.

O errado está em, principalmente, considerar os bens acima dos valores humanos, que devem nortear a vida de uma pessoa, que se queira em harmonia com seu semelhante, em todas as esferas e quaisquer situações.

Riqueza não é crime ou pecado e pobreza não é virtude! TER ou não TER não importa. Em qualquer condição social, o importante é SER!

Ao transpor esses conceitos para a área do relacionamento dito amigável, verifica-se que que a relação é a mesma, embora a realidade do TER bens e valores seja diferente do TER amigos. Enquanto se sabe o quanto tem ou possui em bens materiais, na área da amizade não se sabe quem é e onde está o amigo, pois conforme já esclarecido, nem sempre o considerado amigo o é de fato.

Pode-se ter amplo círculo social, porém amizades verdadeiras pode até não haver. Mas isso não interessa ou não deveria interessar a qualquer pessoa. TER amigos, ainda que, com certeza, não se saiba quem, é muito bom, mas SER amigo é muito melhor.

Para si próprio, as consequências favoráveis do SER amigo vão muito além das alcançadas ao TER amigo A amizade sincera pode alegrar a pessoa em foco ou contemplada, mas é muito mais benéfica a quem a vota ou oferece, na mesma proporção em que dar é melhor que ganhar!

Percebe-se, então, que também nas relações sociais, as pessoas tendem a inverter a orientação, do SER amigo para o TER amigos, assim como faz, do SER humano para o TER coisas materiais. SER amigo não implica, necessariamente, em manter relacionamento cordial e estar à disposição de alguém, dar-lhe suporte, etc., mas não é tão fácil de ser, dependendo isso da personalidade ou mentalidade da pessoa.

Para ser amigo verdadeiro, há que ter desprendimento e não alimentar nenhum sentimento negativo, nem contra eventual inimigo declarado. Até esse inimigo merece atenção e ajuda incondicional, se necessária, da pessoa que não guarda raiva, rancor, ódio, desejos de vingança ou qualquer sentimento negativo contra quem quer que seja.

Isso não implica em estabelecimento ou restabelecimento de relações, contrariando o princípio da sinceridade, uma das qualidades do amigo. O amigo verdadeiro rompe relações, no caso de ofensa grave, não se converte em inimigo e continua amigo do tipo universal, embora possa se conservar incógnito, não deixando transparecer sua condição de não guardar sentimento negativo contra qualquer pessoa e em qualquer circunstância. Por isso, o amigo verdadeiro é um TESOURO OCULTO. ngb

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